Professor Romualdo Flávio Dropa

sábado, 6 de agosto de 2011

Ética da Libertação de Enrique Dussel e a emancipação feminina

Filósofo Enrique Dussel
A escola é a mais importante e poderosa instituição capaz de preparar as crianças e jovens para a sociedade, impondo-lhes o comportamento mais correto e a visão da consciência coletiva.
É na escola que as crianças aprendem que se deve negar a vontade pessoal e sacrificar-se em função do todo social; que terão uma função a cumprir na sociedade, e que para complementarem-se terão de se relacionar com os seus semelhantes. Ou seja, a escola deve internalizar a sociedade no indivíduo, impor-lhe padrões de conduta que o impeçam de seguir suas próprias tendências e regras que possam quebrar a coesão social.
Penso que a partir do pensamento de Enrique Dussel é possível se reforçar as bases do novo paradigma emergente, de forma que ocorra a analética possível: a proximidade, o face-a-face, o reconhecimento do “outro” pela totalidade dominante.[1]
Despertar nos indivíduos o senso crítico e também a própria consciência da existência deste paradigma é o primeiro passo para uma ética emancipatória da mulher. Somente através da educação e da conscientização é que se libertarão os indivíduos ainda cegos pelo véu da ignorância e pela trave do preconceito. Para que seja possível a concretização de uma sociedade justa e harmoniosa, existe o princípio fundamental de que exista, preliminarmente, seres igualmente justos e em harmonia consigo e com o meio. A base de uma vida social é a civilidade. A base de uma sociedade politicamente organizada é seu povo. E a base de um povo civilizado é a sua conduta voltada para o bem comum, indistintamente.
A presença nociva do paradigma androcêntrico[2], nos moldes do estudo da ética da libertação de Enrique Dussel, produz indivíduos influenciados pela hegemonia vigente – o sexismo, androcentrismo – que além de subjugar e desvalorizar o universo feminino, exclui as mulheres do rol de titulares de direitos, ferindo o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana e o princípio da igualdade.
O paradigma androcêntrico vigente deverá ser substituído por um novo paradigma emergente, o qual deve ser instituído através de uma nova práxis político-cultural, seja na educação básica, dentro das escolas e nos seios familiares, seja por meio de política públicas emancipatórias da mulher.
A totalidade dominante, aquela que impõe a sua hegemonia, é o paradigma androcêntrico a ser contraposto. Eis que a comunidade das vítimas, irrompendo diante da totalidade, não como coisa, mas como um rosto lança seu grito de liberdade. Do pensamento racionalista de Descartes (Eu penso) se evolui para uma filosofia do discurso (Eu falo e existo).
O discurso que Dussel pretende é a proximidade[3]. Esta é uma categoria do face-a-face: entre filho(a) e mãe na amamentação; homem e mulher no relacionamento amoroso; ombro-a-ombro dos irmãos. Nestas categorias exemplifica-se a proximidade, a essência do homem, sua plenitude. Neste relacionamento, o outro sempre precisa ser respeitado como outro, distinto, diferente.
Este face-a-face é uma das categorias mais importantes do pensamento de Dussel. Isto significa a proximidade, sem mediação, o aceitar o “outro” como “outro”, expor-se frente a frente com o "outro" numa relação de autenticidade. O face-a-face é o encontro de uma "totalidade aberta" e da alteridade que se revela. Sãos dois pólos abertos em comunicação um com o outro. Este “outro” permanece sendo distinto, diferente, não passível de compreensão pela totalidade dominante por meio dos juízos prévios desta, mas sim uma compreensão que se realiza por meio da observação atenta ao “mundo” do “outro”, sem pré-julgamentos. Não se pode negar a realidade empírica da existência da “comunidade das vítimas” (os excluídos) e sua negação, uma realidade do efeito perverso da ordem mundial vigente.
Através da Ética da Libertação, proposta pelo filósofo Enrique Dussel, é que se construirá o novo paradigma emergente, que podemos batizar de novo paradigma libertador, pois o mesmo propõe uma ética latino-americana como forma de libertar o povo oprimido da dominação excludente vigente trazida pelos descobridores influenciados pelo pensamento clássico europeu.
Por meio desta ética emancipatória deverá se promover um face-a-face, um re-encontro do “mesmo” com o “outro”, do homem com a mulher, de forma que o novo paradigma libertador (antítese) seja o re-construtor de um novo paradigma onde o androcentrismo perderia seu poder dominador e sua hegemonia, libertando as mulheres oprimidas e marginalizadas.
Deve-se buscar alternativas políticas e sociais que visem promover a construção e afirmação do novo paradigma emergente dentro da sociedade brasileira ora dominadas pelo paradigma androcêntrico.



[1] DUSSEL, Enrique D. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 190.
[2] GÖSMANN, Elisabeth et al. Trad. de Carlos Almeida Pereira. Dicionário de teologia feminista, Petrópolis: Vozes, 1996.
[3] DUSSEL, Enrique. Filosofia da libertação. São Paulo/Piracicaba: Loyola/UNIMEP, 1976, p. 05.




Enrique Dussel e a Modernidade, pelo prof. Daniel Pansarelli

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